09/03/2009

MANEIRA DE AMAR

"O jardineiro conversava com as flores, e elas se habituaram ao diálogo.

Passava manhãs contando coisas a uma cravina ou escutando o que lhe confiava um gerânio.
O girassol não ia muito com sua cara, ou porque não fosse homem bonito, ou porque os girassóis são orgulhosos de natureza. Em vão o jardineiro tentava captar-lhe as graças, pois o girassol chegava a voltar-se contra a luz para não ver o rosto que lhe sorria.
Era uma situação bastante embaraçosa, que as outras flores não comentavam.

Nunca, entretanto, o jardineiro deixou de regar o pé de girassol e de renovar-lhe a terra, na ocasião devida.

O dono do jardim achou que seu empregado perdia muito tempo parado diante dos canteiros, aparentemente não fazendo coisa alguma. E mandou-o embora, depois de assinar a carteira de trabalho.

Depois que o jardineiro saiu, as flores ficaram tristes e censuravam-se porque não tinham induzido o girassol a mudar de atitude. A mais triste de todas era o girassol, que não se conformava com a ausência do homem.

“Você o tratava mal, agora está arrependido.” “Não”, respondeu, “estou triste porque agora não posso tratá-lo mal.

É a minha maneira de amar, ele sabia disso, e gostava.”


Carlos Drummond de Andrade

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Definitivamente, no soy lo mismo!