17/02/2009

UM MANTRA MARROQUINO

E não é que eu voltei!!!!

O passeio foi algo inimaginável, coisa que jamais eu teria pensado em fazer em sã consciência.

Quando fui à agência com o trio ternura eu já estava certo que eu não iria fazer o passeio. Estava amedrontado com o Marrocos. Estava com medo de sair às ruas, medo do assédio, da diferença. E ainda ficar dois dias em lugares mais diferentes ainda daquele com que eu tinha me assustado?

Mas eu vi ali uma possibilidade de conhecer mais a fundo esta terra tão rica e cheia de histórias. E o mais bacana foi eu ter me dado esta oportunidade, ter dado uma segunda chance a mim mesmo de querer entender o que há de tão diferente nesse povo. E foi simplesmente maravilhoso.

A princípio, fui para não ficar sozinho aqui e, depois, porque a compania era muito boa: Mônica, Raquel e Marcelo; e mais nove novos companheiros. Digo mais nove, porque pensei que fôssemos só nós quatro. Em nenhum momento passou pala minha cabeça que poderia ter mais alguém a fim de fazer uma viagem de 12 horas numa van com destino ao início do deserto do Saara. E não é que tinha mais nove?

Na van estávamos eu, o trio, três japoneses, um rapaz e uma moça americana, uma da Sérvia, outra do Canadá e uma da Irlanda.

Doze horas pra chegar e, pelo caminho, o Atlas com suas montanhas nevadas, seus caminhos tortuosos, pequenas aldeias berberes com suas casbás - as fotalezas . E muita gente linda!!!! Caramba!

Estou aqui arrepiado só de relembrar dos momentos e da vista surpreeendente do caminho.

Chegamos a já às 7h da noite e vi os camelos que nos levariam por duas horas ao acampamento berbere quase no escuro. Mas foi uma festa. Comprei o turbante que os tuaregs usam para se proteger nas areias do deserto pra fazer charme e as fotos. Pelejamos por duas horas no lombo do camelo e ele, coitado, levando duas mochilas - um com equipamento de fotografia e a outra com roupa, que nem chegou a ser aberta, porque banho nem se eu quisesse muito, porque não tinha.

Chegamos ao acampamento doloridos. Não é todo dia que se nada de camelo e o bicho balança pra caramba, haja virilha! Mas é lindo, doce e tem os dentes horrorosos.

Fomos recebidos por cinco berberes-vestidos-para-turista, mas a noite foi uma festança.

O jantar foi fantástico, acho que a melhor comida que comi no Marrocos: tagine de frango, pão da melhor qualidade e laranja super doce de sobremesa. Depois disso tudo a turma começa a cantar músicas típicas dos acampamentos berberes e, no final acaba todo mundo na roda de dança, cantando os mantras com os instrumentos nas mãos.

Eu e o Marcelo ajudamos a puxar a turma pra dançar. Dá pra acreditar? Parecia que eu estava na minha festa de aniversário com os amigos queridos. Foi mais uma noite inesquecível.

À meia noite fomos convidados a dormir, porque iríamos sair para a viagem de volta às 8h da manhã. Cada tenda cabia quatro pessoas, tinha colchões confortáveis e 2 cobertores bem grossos para cada um. Dormi mais um sono pesado depois de mais um dia especial.

Acordeiàs 5h da manhã para fotografar o nascer do sol e ver para onde eles tinham nos levado. No escuro nós não tínhamos idéia de onde estávamos e foi uma grande surpresa. O dia foi clareando e tudo começou a aparecer.

Era uma grande planície com montanhas bem ao fundo, dunas na parte onde estávamos e parte do terreno pedregoso; era o início do deserto do Saara.

Lindo, árido, frio.

Tomamos o nosso café da manhã - chá de menta delicioso que é típico daqui - pão e manteiga. E tudo parecia um banquete de um hotel 5*.

Subimos cada um no seu camelo e, agora, a viagem durou só 40min., porque a van estava mais próxima para nos levar de volta a Marrakech. O céu estava completamente azul, azul.

No caminho de volta paramos para almoçar em Ouarzazate, onde fica o Atlas Studios, onde foram rodados alguns filmes hollywoodianos como Alexandre - O Grande, Gradiador e Cruzada.
O motorista da van colocou uma fita k-7 com várias cancões berberes que, para mim, são mantras. São canções longas com poucas estrofes que se repetem. A música daqui também é linda.

Às 8h da noite chegamos acabados em Marrakech. Tortos, doloridos, imundos, mas certos que cada um daqueles treze passageiros tinha mudado um pouquinho depois daqueles dois dias.

O Marrocos encanta e transforma quem o visita. Acho que por isso eu escrevi lá em cima: diferença. Ela choca e amedronta. Aqui tudo é diferente demais e, talvez por isso, pelo meu "pré-conceito", achei que tinha que ter um pouco de Europa pra ser feliz.

Os marroquinos são encantadores, com as suas peculiaridades, como qualquer povo. A cultura é fantástica e a história, para quem não sabe é melhor procurar no Google, porque é de matar de inveja qualquer povo de qualquer país das américas que tenha quinhentos e poucos anos.
Estou emocionado agora e envergonhado pelo meu ataque de histeria na chegada.

Hoje caminhei com um guia pelos souks, tirei as fotos que eu queria fazer desde o primeiro dia na Djemaa el-Fna e consegui tranqüilizar o meu espírito depois da aula de vida e do banho de cultura que eu estou tendo desde a quinta-feira passada quando cheguei aqui.
Estou honrado por ter a oportunidade de poder conhecer um pouco da cultura deste povo.

O dia amanheceu cinza e foi clareando até anoitecer púrpura.

E eu, mais uma vez, aprendendo.

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