14/02/2009

MEDINA - O MARTÍRIO

Eu, como sempre, o previsível imprevisível, não reservei o riad em Marrakech. Pensei comigo: vou chegar às 6h da tarde, final de dia, vou para a rua e olho as fachadas do ríads e escolho, e como eu fiz em Granada ou Sevilha.kkkkkkkkkkkkkkkk

Doce ilusão.

Ainda em Sevilha mandei emails para dois riads - que são casas familiares que se transformam em pequenos hotéis de , no máximo 6 a oito quartos.
Recebi resposta de um deles, de uma francesa muito elegante e a outra, nem tchum. Claro que eu fui pra outra que "nem tchum" e me ferrei, porque o da francesa era caro demais.

Ainda no aeroporto, fiquei alucinado com a sua dimensão e a arquitetura: teto com quinas arredondadas, uma grande caixa de losangos vazados.

Peguei um táxi e indiquei pro marroquino no Guia Espiral da Folha - que é muito bacana , o endereço do tal riad. O motorista fez cara de entendido e fomos mudos até a Medina. Falar o que, né?

Escolhi ficar hospedado num riad porque todos os guias e alguns amigos disseram que o bacana em Marrakech é ficar num riad e se perder pelos souks na Medina. Então tá!!!!!

Pelo caminho, comecei a perceber como é o caótico o trânsito da cidade. Estrada de terra, poeira do fim de tarde, poucos sinais, bicicletas que avançavam na frente de carroças, que avançam na frente de motos e mobiletes, que avançam em cima da gente. Caos total. E um final de tarde digno das fotos maravilhosas do Marrocos: tudo laranja. Lindo!

Lembrando: eu com uma mala imensa e duas mochilas pesadas no porta-malas do táxi.

De longe eu percebo um grande muro laranja, que divide a Medina da parte moderna da cidade. Emocionante. Entramaos através de uma dos portões e alí o motorista disse com um carregadíssimo: is near. OK, eu respondi!

Ele parou o táxi numa praça sem calçamento e disse em inglês marroquino: 25 meters.
Quando eu saí do tal com o meu figurino preto total, com três malas pretas, vieram 2 rapazes perguntando ao mesmo tempo em francês, inglês e árabe para onde eu iria- eram os faux guides.
Caminhei por um beco na direção que o motorista tinha indicado e os dois atrás de mim. Para tentar sair do papo, disse, em inglês que eu falava espanhol. Que merda! Uma deles falava tamabém.

Assustado, nas ruas estreitas, escuras sem calçamento da Medina, perguntei a um vendedor de uma vendinha o endereço do riad, apontando para o guia.
Aqui fui mais grosseiro com os caras e consegui que fossem embora, mas o medo aumentou.

Perguntei pra mim: o que eu faço agora? Foi quando apareceram dois míni-falsos-guias- turísticos...kkkkkkkkkk Relaxei na medida do possível, mostrei o guia eles me levaram por, mais ou menos, uns trezendo metros Medina adentro. Cadê os 25m que o motorista tinha falado? Becos escuros, chão batido, muita mobilete brigando pra passar junto com os pedestres num espaço de dois metros de largura.

Onde eu fui me meter, meu Deus? E, em pensamento, eu falava comigo: calma que vai passar...

Cheguei até a porta o tal riad maravilhoso do guia, o Dar Al Sultan. Batemos à porta e nada. Batemos de novo e nada também. Tô fodido!! Agora falando alto e eme bom tom pra qualquer marroquino ouvir.
A "rua" do bendito era mais estreita que a s outras, com mais ou menos, 1.20m de largura.
Como pode existir alguma coisa bacana aqui?

De tanto bater na porta, apareceu na janela da casa ao lado, um rapaz com um inglês melhor explicando que o "da recepção" tinha saído para comer, mas o riad estava lotado.

Agora que eu me ferrei de vez.

O rapaz desceu, muito educadamente perguntou se eu queria ir pra outro perto dalí. Sure! Respondi mais que depressa.

Ele pegou a minha mala gigante e começou arrastá-la pelos rodízios pelas ruas assustadoras da Medina...kkkkkkkkkkkkkkkk. Os rodízios se afundavam em lama, agarravam no cascalho, caía nos buracos; e o medo de ele dar um galope e sumir com todas as minhas coisas? Fiquei colado nele e no guia mirim que ainda nos acompanhava.

O nome desse santo árabe é Ali, garçon de um restaurante perto da Praça Djeema El-Fna, onde tudo acontece em Marrakech, que durante o dia trabalha como guia turístico.

Ele me levou até o ríad Chennaoui onde, felizmente, tinha vaga.
Entrei por um corredor decorado com azulejos árabes até chegar a um jardim central, que é comum a todos os ríads. Fui atendido pelo Nagib, um rapaz bacana, berbere - povo que vive em casa de pedras nas encostas rochosas, que veio pra Marrakech para trabalhar e estudar.

Ali eu me senti mais protegido, mas não tinh internet nos quartos. Como eu vou escrever o meu blog?

Fui para o quarto e o banheiro não deu vontade nem de entrar. O Chuveiro era uma duchinha dessas pequenas que tínhamos na dácada de 70. Lá em casa, em Itabira, tinha um aparecida.

Travado de tensão, perguntei ao Ali quanto eu o devia. Ele respondeu que era quanto eu quisesse pagar; então fiz os meus cálculos de euros para o dirham e dei 100dhs, o que equivale a 10 euros e 20dhs para o guia mirim. Mais depois perguntei para o Nagib o que seria bacana pagar e ele disse que, no máximo, 30dhs. Tá bom, paguei a mais pela tranquilidade que ele me deu e 10 euros naquela situação que eu me encontrava era um trocado.

Ele me perguntou seu eu queria que ele voltassse duas horas depois para que ele pudesse me mostrar a cidade. Pensei comigo: eu, sair sozinho pela Medina? Porque ao invés de me perder nos souks, eu iria me perder alí mesmo. Nem morto! Respondi: pode passar às 8h. Gracias!!!!
Porque o anjo marroquino alé de falar árabe, francês e inglês, arranha no espanhol.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Seguidores

Arquivo do blog

Olha eu aí...

Minha foto
Belo Horizonte, Minas Gerais, Brazil
Definitivamente, no soy lo mismo!